O professor americano John Mullins, presidente da Fundação de Empreendedorismo e Marketing da London Business School, é especialista em educação empreendedora e doutor pela Universidade de Minnesota. Já escreveu cerca de 40 artigos publicados em revistas de renome como a “Harvard Business Review”.
O número de pequenas empresas que não sobrevivem ao primeiro ano de vida no Brasil é extremamente elevado. Como a educação pode ajudar empreendedores iniciantes a obter sucesso?
John Mullins: A mortalidade não é um problema apenas do Brasil, mas mundial. A educação pode contribuir, e muito, para a longevidade dos negócios. Na London Business School nós desenvolvemos um curso de verão voltado para start ups que exemplifica como estudar é benéfico. Nossa meta no programa é prepará-las para enfrentar os desafios que surgem no começo. Nos últimos anos passaram pelo curso 136 empresas. Delas, 116 continuaram operando muito bem, ou seja, 85%. Por que a maioria sobreviveu? Porque o estudante teve contato com cases de sucesso, leu artigos, participou de discussões e dividiu com colegas e professores suas dúvidas. Ele aprendeu a ficar mais preparado para as adversidades.
Então o senhor não acredita que empreendedorismo é um dom?
Mullins: Não acredito que você possa, por exemplo, pegar alguém indiscriminadamente e torná-lo empreendedor, mas não acho que seja um talento nato. Para empreender é preciso ter paixão. Este é o primeiro pré-requisito. Além disso, quanto maior o grau de complexidade e inovação da empresa, maior deve ser o nível educacional do dono. Quem se dá bem tem em comum, entre outros aspectos, a paixão pelo que faz e a capacidade de trazer novas soluções.
O que deve ser feito quando o empresário pensa que encontrou uma ótima oportunidade ou que seu produto é inovador e na prática percebe que não é bem assim? É melhor mudar o foco ou insistir na ideia?
Mullins: Ele deve ter sempre um plano B e até um C. A maioria dos negócios que dão certo não levam à risca todos os detalhes do planejamento inicial. O bom empresário é aquele que consegue ser flexível e sabe reconsiderar metas de acordo com aquilo que ele capta do mercado.
O que as pequenas e médias empresas devem fazer para atrair e reter talentos?
Mullins: No início, as pequenas e médias empresas talvez não tenham como pagar salários mais altos ou tão bons quanto os oferecidos pelos concorrentes, mas é possível mostrar para estes talentos as vantagens de trabalhar em uma start up como, por exemplo, maior autonomia na tomada de decisões e chances de crescer junto com o empreendimento. Ao avaliar uma proposta de trabalho, as pessoas levam em conta até a empatia que tiveram com o gestor na hora da entrevista. E quando já estão empregadas, dificilmente elas pensam em mudar de emprego se o ambiente de trabalho for agradável, produtivo, se estão tendo seus potenciais reconhecidos e se estão crescendo na carreira.
Quais são os erros mais comuns cometidos pelas start ups?
Mullins: São vários. Entre eles cito: perder muito tempo no planejamento e pouco se alinhando às necessidades do cliente. Subestimar a concorrência. Desorganização financeira é outro erro grave, principalmente porque a maioria das empresas começa com dinheiro curto e é fundamental saber investí-lo de forma apropriada.