Provadores virtuais, espelhos inteligentes, como os da Natura, e experiências imersivas são algumas delas. Mas, para muitos negócios, essa evolução tecnológica ainda esbarra nas despesas fixas, especialmente aluguéis e folha de pagamento.
A inovação no varejo brasileiro vive um novo ciclo, impulsionado pela combinação entre tecnologia, atendimento personalizado e ambientes sensoriais que ampliam a experiência do consumidor. Os setores de vestuário e beleza estão entre os que mais avançam nesse movimento para tornar a visita às lojas mais atrativa. Renner e Natura são dois exemplos dessa transformação. Mas, apesar do avanço, ainda há muito a ser feito para modernizar o comércio brasileiro.
Provador virtual leva moda para além da loja
A Renner lançou um provador virtual instalado fora das lojas físicas, permitindo que clientes experimentem digitalmente os looks da coleção Primavera-Verão e ainda tenham acesso a 15% de desconto na compra.
O recurso utiliza inteligência artificial generativa, que ajusta as peças a diferentes biotipos e mostra como elas vestem em cada corpo de forma realista e interativa. Segundo a empresa, que respondeu às perguntas via assessoria de imprensa, o retorno do público tem sido “muito positivo, com grande engajamento”, fortalecendo a conexão com a nova coleção.
A ação está instalada nos shoppings Iguatemi (Porto Alegre), Rio Sul (RJ), Pátio Paulista (SP) e Estação Palmeiras Barra Funda (SP), e permanece até novembro.
Autoatendimento e jornada omnicanal
Além do provador, a Renner destaca a tecnologia dos caixas de autoatendimento, que fazem a leitura e a desativação de alarmes de forma automática. Eles estão em mais de 60% das lojas e representam cerca de 40% dos pagamentos nesses pontos. Há ainda o Pague Digital via app e a Venda Móvel, que permite que colaboradores recebam pagamentos em qualquer área da loja.
Com o uso das etiquetas de RFID, que também funcionam como alarme antifurto, a empresa conseguiu melhorar em 64% a precisão dos estoques e reduzir em 87% a ruptura de itens, quando o cliente procura por um produto que não está disponível.
Hiperpersonalização e sensorialidade
No setor de beleza, a Natura reforça um caminho complementar ao da Renner: unir tecnologia, sensorialidade e propósito para transformar a loja em um “lugar para se sentir”.
Entre as principais inovações da marca, destacam-se:
- Skin Analysis: ferramenta que usa inteligência artificial para diagnóstico personalizado da pele, identificando sinais como rugas e manchas;
- Espelho Inteligente / Virtual Makeup: solução de realidade aumentada que permite testar virtualmente tons e acabamentos de maquiagem, comparar cores e visualizar o antes e depois em tempo real.
Esses recursos ampliam o autocuidado, promovem a experimentação e funcionam como instrumentos de hiperpersonalização, afirma Paula Andrade, vice-presidente de Omnicanalidade da Natura.
Lojas imersivas e sustentáveis
A loja física evoluiu para um espaço sensorial, segundo a executiva. Entre os elementos presentes nas unidades estão:
- Design com brasilidade e pergolados que filtram a luz;
- Ambiente Ekos, que transporta o visitante para a Amazônia por meio de sons da natureza e perfumes de óleos naturais;
- Rituais de produtos realizados nas pias, estimulando toque e desaceleração;
- Espaço Naturé dedicado ao universo infantil;
- Uniformes com fibras naturais e tingimento vegetal, criados por Flavia Aranha.
“Trabalhamos o pilar sensorial para que a loja ‘acolha os sentidos’: desde a entrada, o som de água corrente e o perfume de óleos naturais conduzem a uma imersão aprofundada no espaço da linha Ekos”, diz Paula.
No pilar de sustentabilidade, a empresa expande o programa Recicle com a Natura, agora com um elemento gamificado: o cliente recebe, via WhatsApp, o impacto ambiental das embalagens entregues e ganha desconto de R$ 15 em compras acima de R$ 100 após atingir a quantidade prevista.
As lojas funcionam ainda como hubs logísticos - clique e retire, ship from store e integração total com canais digitais. Nos últimos dois anos, a companhia dobrou sua participação de mercado no canal de lojas e franquias.
Paula acredita que o futuro das lojas físicas é o encontro entre tecnologia, sensorialidade e acolhimento humano, em que o espaço físico se torna a máxima expressão da marca.
Despesas fixas travam o varejo brasileiro
A principal barreira para a evolução tecnológica do varejo brasileiro “são as despesas fixas, especialmente aluguéis e folha de pagamento”, segundo Marcus Rizzo, diretor da Rizzo Franchise. Esses custos reduzem a capacidade de inovação das empresas, afirma.
Para ele, a tendência internacional é buscar ganho de produtividade: “menos gente, fazendo mais e ganhando muito mais”. Essa racionalização libera tempo do vendedor para um atendimento mais qualificado e melhora a experiência do cliente.
Do personal robot ao checkout invisível
Rizzo aponta tendências em diferentes setores:
- A rede Fitness Exclusive reduziu espaços e pessoal, investiu em atendimento e treinamento e substituiu a avaliação física tradicional por uma avaliação eletrônica com 10 treinos definidos por objetivo;
- Na China, já há robôs personal trainers que orientam treinos e uso de equipamentos;
- Na Austrália, um sushi bar usa robô para recolher pratos e oferecer degustação aos clientes;
- Em mercados internacionais, o caixa tradicional praticamente desapareceu: vendedores recebem pagamentos via tablet em qualquer ponto da loja;
- McDonald’s consolidou o atendimento por app e totens touchscreen; supermercados avançam no self-checkout;
- A Starbucks nos EUA usa tablets com inteligência espacial 3D para contar estoques em 15 minutos e fazer pedidos automaticamente;
- Em vários fast-foods, cardápios físicos foram substituídos por QR Code, permitindo pedir e pagar pela mesa; e
- No varejo esportivo, há máquinas que escaneiam os pés e indicam o tênis ideal para peso e objetivo.